segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Flores Raras contribui para a visibilidade da homoafetividade

por Frederico Oliveira

Digno da premiação do Oscar, Flores Raras revela muito mais que um amor entre pessoas do mesmo sexo. O filme é baseado em uma história real que nos mostra a força da emancipação da mulher diante dos padrões sexistas da dominação masculina e a naturalidade do brotar da afetividade entre duas lésbicas de personalidades muito fortes e muito distintas. Flores Raras, impressiona na riqueza cinematográfica, tanto da fotografia, da trilha sonora, especialmente da direção e do roteiro, ao revelar o amor entre a arquiteta Lota de Macedo Soares com a escritora norte-americana Elizabeth Bishop, perfazendo um passeio no poema "One art" em que a escritora retrata a arte da perda.

Lota, interpretada pela espetacular atriz Glória Pires é uma arquiteta de pulso forte, objetiva e decidida, que foi reconhecida por obras arquitetônicas importantes, especialmente o paisagismo do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. A atriz australiana Miranda Otto em brilhante atuação, deu vida à indecisa e tímida Elizabeth Bishop, uma das mais importantes escritoras da língua inglesa. 
Divulgação

Mais do que a homoafetividade, o filme revela, ainda, um arranjo familiar que jamais seria aceito para os padrões sociais da época, não apenas pela orientação sexual das personagens, mas pelo relacionamento afetivo concomitante entre Lota e Mary, sua companheira de vida e de maternidade.  

O sucesso do filme já era previsto tanto pela densidade da história, quanto pelo brilhantíssimo trabalho do diretor de cinema brasileiro Fábio Barreto. Não bastasse isso, a combinação fica ainda mais interessante por contar com a atuação de Glória Pires, para mim, uma das melhores atrizes brasileiras, que autua pela primeira vez em inglês. 

O filme que foi sucesso de público, por ocasião do lançamento, contribui com a visibilidade das lésbicas ainda tão vitimadas pelo preconceito e a discriminação. Vale muito a pena navegar na beleza dessa arte, observando a magnitude do trabalho arquitetônico de Lota e a densidade da poesia de Bishop. 


One Art

BY ELIZABETH BISHOP
The art of losing isn’t hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.


Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.


Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.


I lost my mother’s watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.


I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.


—Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan’t have lied. It’s evident
the art of losing’s not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.

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